Artigo produzido por Paulo Auricchio e Anísio Cláudio Rios Fonseca*

Marrocos é conhecido mundialmente pela grande quantidade de fósseis, tanto na variedade, quanto na quantidade. Por ser uma região desértica e semidesértica, o ambiente é propício à fossilização. No Brasil, geralmente, os ambientes são florestais e ácidos, os quais impedem a fossilização. Somente em alguns locais no Brasil são encontradas grandes quantidades de fósseis, como é o caso da Chapada do Araripe, no sul do Ceará, onde há uma imensa quantidade de peixes fósseis.

No Marrocos, os principais organismos encontrados são os trilobitas. Lá, são encontradas mais de 3 mil espécies das 5 mil conhecidas. Esses eram animais marinhos mais ou menos semelhantes a camarões e comiam detritos do fundo do mar. A idade é superior a 380 milhões de anos. Além deles, são encontrados muitos amonitas, crinóides, mosassauros e outros animais marinhos.

Lá, é possível encontrar fósseis no chão do deserto. Em alguns locais é impossível não pisar neles. Nas fotos abaixo, é possível ver fósseis de amonitas e ortoconóides (que são moluscos como o polvo) aos montes.

Em outro local, são encontrados estromatólitos globulares espalhados por centenas de metros. Essas estruturas foram formadas por bactérias que liberavam oxigênio e foram elas que deram à atmosfera atual a concentração desse gás.

Mas nem sempre são encontradas partes dos animais. É possível encontrar somente vestígios de sua presença antiga (icnofósseis). As pistas deixadas na lama que seca e se solidifica são bons elementos para conhecer a fauna antiga. Muitos fósseis são retirados do fundo da terra, de camadas específicas. Às vezes, rochas são quebradas durante meses sem que saia um único fóssil de trilobita.

As escavações podem ser muito profundas, a 20 – 25 metros, em túneis muito estreitos e perigosos, com equipamento pesado e condições pouco salubres.

Em outras, a cava pode acompanhar uma camada onde é possível encontrar os fósseis. Na imagem abaixo, o autor em frente a uma cava no Marrocos.

Encontrado um, aí começa um grande trabalho de preparação e limpeza com cinzéis e uma bomba de jato de areia muito fina que vai degastando a rocha ao redor do fóssil, expondo, por fim, sua beleza. Abaixo algumas dessas peças (trilobitas) já limpas.

Há um sítio fossilífero muito importante em Khouribga, de onde saem milhões de dentes de tubarões, crânios de crocodilos e um animal gigantesco, o Mosassauro, um réptil marinho gigante. Na foto abaixo, é possível ver um crânio como encontrado no fundo da terra.

Como nesse sítio era fundo de mar, há uma grande concentração de fosfatos. Fosfatos são excelentes estabilizadores de solo para agricultura. Por isso, Khouribga é uma grande área industrial de extração de fosfatos, onde é possível encontrar dezenas destas empresas extraindo milhões de toneladas e vendendo para toda a Europa. No meio de montanhas de fosfato, é possível encontrar pessoas coletando dentes e outros restos para vender a turistas e cientistas.

Sabendo do interesse sobre fósseis, há hoje uma indústria de preparação e comércio dos fósseis marroquinos que são exportados legalmente para todo o mundo.

Loja de fósseis no Marrocos

Esse comércio legalizado já tem mais de 30 anos e há agências governamentais que dão a licença de saída do país. Nesses mesmos moldes agem os EUA, França, Inglaterra, Holanda e outros países.

Será que estão errados ou essa é uma prática positiva?

Se países respeitáveis como os citados acima têm essa prática, então devemos parar para pensar. São países onde encontramos os principais museus do mundo e não deixariam escapar entre os dedos fósseis importantes. São países onde há os maiores níveis culturais.

Como em tudo no mundo, há pontos negativos e positivos no comércio de fósseis. Tudo deve ser pensado cuidadosamente. Por que impedir a venda de fósseis extremamente comuns? Como evitar que peças importantes sejam contrabandeadas? Como controlar esse comércio? Como podemos permiti-lo sem que se esvaiam ou sejam destruídos nossos mananciais fossilíferos, como o da Chapada do Araripe?

No meio de tantas dúvidas, o melhor é proibir – parece que essa é a maneira de nosso governo pensar.

Enquanto isso, no Araripe, milhões de metros quadrados de calcário fossilífero vira piso em toda parte do país. Grande parte dos sítios fossilíferos de São Paulo vira cimento, com aval governamental.

Enquanto isso ocorre, quantas escolas do Brasil tratam do assunto Paleontologia? O que as crianças sabem sobre isso? Quantas já pegaram em um fóssil, enquanto milhões deles viram cimento ou pedras para piso? É preciso rever essa situação absurda e constrangedora, para que o Brasileiro possa crescer culturalmente, saber sobre a verdadeira importância dos fósseis e saber decidir sobre as coisas do Brasil.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre os fósseis, pode visitar o museu do Laboratório de Mineralogia do UNIFOR-MG, onde estão expostos alguns fósseis citados neste artigo.

* Paulo Auricchio é professor na Universidade Federal do Piauí (UFPI)

  Anísio Cláudio Rios Fonseca é Curador do Laboratório de Mineralogia e professor no UNIFOR-MG