Eu gosto de ser professor: motivação e mudança
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007.Para mudarmos, temos de ter motivações, ambição de conseguir algo de que podemos nos orgulhar. E quer orgulho maior, para um professor, do que receber um muito obrigado pela aula? Ou, eu aprendi tudo hoje! Ou, gostaríamos que você fosse nosso professor homenageado! Isso é o auge para um professor, pois é o reconhecimento de seu trabalho, a valorização de tudo que você fez para uma turma. Nenhum dinheiro no mundo paga isto.
Pois é, qual profissão oferece isto? Capacidade de mudar e motivar? Qual profissão tem a beleza de ver uma criança crescer, formar e se tornar um profissional de sucesso? E, no final, esta pessoa ainda poder dizer: que bom que você foi meu professor, pois aprendi muito com você! Isto é motivação. É gostar do que faz. É gostar de ser professor.
Sei que, muitas vezes, o professor não é tido como “bonzinho”; mas, as aulas não têm que ser divertidas e não podem ser constantes fontes de entretenimento. Ou o professor tem de ser condescendente com as atitudes dos alunos? É suposto, à escola, preparar para a vida, certo? A vida não é um circo. Por que motivo se espera que a escola seja uma espécie de dispensadora de divertimentos? A motivação está, também, em fazer o ruim se tornar bom, ótimo, excelente! Mudança, certo?
Esta amável profissão me motiva, também, por fazer com que o profissional aja como “pai”. E aquele que o é, sabe que o melhor para o filho, nem sempre é o melhor que ele almeja naquele momento. E fazer com que o filho seja igual, ou melhor, que o próprio pai é a motivação que faz com que conduzamos nossos alunos à glória, seja por caminhos tortuosos, cheios de espinhos, ou por caminhos suaves, onde a brisa tem cheiro de mar e onde possamos enxergar o horizonte com seu brilho devassador.
Ser professor! Gostar de ser professor! Será um sacerdócio? Será um vício ou uma virtude?
Na verdade, acho que todas as palavras acima fazem com que o professor fique motivado para mudar. O sacerdócio tem a motivação de se entregar, de se dar à profissão, sem se preocupar com os bens materiais, mudando o ser intimamente. O vício torna o professor um ser diferente do resto da sociedade; mas, sempre motivado a cumprir a meta, formar e mudar o aluno. Virtude porque o professor tem a disposição firme e constante para a prática do bem, a força moral, a capacidade de mudar uma criança em um ser pronto para a sociedade.
Além disso, posso dizer, também, que gostar de ser professor não é, como muitos julgam, erradamente, ir à escola, dar umas "horas de aula" e voltar para casa para dormir umas horas à tarde…. Mas, ter responsabilidade e saber que o número de horas trabalhado por um professor, não são as que estão marcadas no seu horário. Há muito trabalho "escondido" fora dessas horas ditas letivas, de meia-noite às seis da manhã, no fim de semana, para a preparação, correção, reuniões nos órgãos de gestão, com os pais, projetos diversos… É a dedicação a esta prática que me faz ser crítico e perseverante na busca do prazer em ensinar. E é este prazer em ensinar que me motiva a mudar todos os dias e ser diferente, a cada aula.
Para terminar, gostaria de dizer mais uma coisa: os professores não são os únicos, nem os exclusivos agentes de cultura, mas o são “por profissão”, isto é, não só ganham a vida com isso, mas, também, “fazem vida disso”. E bota vida nisso. Ser professor é uma “carreira”, um “caminho” de vida. Claro que o viver de cada um de nós contém outros caminhos; tece-se e entretece-se de um mapa percorrido de estradas. E até nem é indiferente, para a própria qualidade da atividade docente desenvolvida, a riqueza de itinerários que vamos conseguindo trilhar. No entanto, profissionalmente, ser professor é uma carreira que se abraça, que se protagoniza, que se faz motivar e que se assume como horizonte integrador do ser que, sendo, vamos modelando. Neste peculiar viver de profissão, construímos e vamos construindo. Nesta acepção, restrita, mas forte, um professor não “faz umas horas”, não “dá umas aulas”, para, aliviado e lesto, seguir “sua vida”, como se esta apenas alhures fosse encontrar.
É preciso coragem, para seguir motivado e capaz para mudar um ser humano. É por isso que gosto de ser professor!
Artigo escrito pelo Prof. Dr. Stênio Nunes Alves, do UNIFOR-MG.