
Aula de campo em comunidade indígena é vivenciada por alunos de Enfermagem
segunda-feira, 30 de novembro de 2015.
A turma do 1º período do curso de Enfermagem do UNIFOR-MG realizou uma visita aula à Aldeia Indígena Muã Mimatxi, etnia Pataxó, localizada no município de Itapecerica, no dia 6 de novembro. Os alunos foram acompanhados pelo professor antropólogo Francimário Vito dos Santos que leciona a disciplina de Antropologia Filosófica e Sociológica.
Essa comunidade é composta por onze famílias, no total de 33 indígenas, entre adultos, jovens e crianças. Há, também, um posto médico que dispõe de uma equipe de profissionais composta por um médico, uma dentista, dois enfermeiros e um técnico de enfermagem, os quais prestam serviços de saúde de segunda a sexta-feira. A comunidade conta com uma escola de ensino fundamental, onde todos os professores são indígenas. Além do ensino formal, as crianças estudam a disciplina Culturas Indígenas que inclui na ementa o respeito ao meio ambiente e o estudo da língua da etnia Pataxó.
O principal objetivo da visita foi aprimorar os conhecimentos teóricos obtidos em sala de aula a partir dos temas ciência e senso comum, estudos de comunidades, desigualdade e exclusão sociais, processo de segregação, movimentos sociais, direitos dos povos tradicionais, política, educação e, principalmente, compreender os processos de saúde e doença elaborados a partir da cultura indígena.
De acordo com o professor, também foi possível proporcionar aos futuros enfermeiros compreender como é o dia a dia da equipe de saúde médica no que se refere aos cuidados a povos indígenas. Como foram expostos nos depoimentos de alguns profissionais, a prestação de serviços e assistência de saúde ao público indígena requer, acima de tudo, sensibilidade e aptidão para ouvi-los e construir diálogos horizontais. Isso significa dizer que é preciso levar em consideração os saberes tradicionais dos indígenas sobre os cuidados em saúde, consequentemente, na promoção da saúde das famílias da comunidade.
Por último, foi possível compreender o modo de subsistência das famílias da comunidade. Os indígenas tiram parte do sustento da produção e venda do artesanato tradicional de enfeites, ornamentos e objetos indígenas.
De acordo com o Prof. Me. Francimário Vito dos Santos, a realização de atividades dessa natureza é imprescindível para compor a formação geral do acadêmico, pois proporciona a ampliação dos debates e discussões realizados em sala e aguça o potencial reflexivo-teórico do futuro profissional.
Também é uma forma de estabelecer o diálogo entre teoria e prática, o que permite ao discente transcender para além do ambiente acadêmico e entender os propósitos das Ciências Humanas. “Somente a partir do exercício reflexivo, por exemplo, de nos colocarmos no lugar do ‘outro’, é que podemos diminuir as distâncias e as barreiras que dificultam compreender o outro como ele é de fato. Pois, se há algo de normal na sociedade, esse algo são as diferenças”, destacou o professor.
História da Aldeia Indígena Muã Mimatxi
A origem dos povos indígenas que compõem a aldeia Muã Mimatxi, etnia Pataxó, remete à região do Sul da Bahia, denominada de “Região do Descobrimento do Brasil”, área que abrange o território de Porto Seguro. Os descendentes de indígenas que habitam atualmente a região de Itapecerica foram expulsos de seu território de origem no início da década de 1950 do século passado, motivados por conflito armado liderado por representantes da indústria do turismo massificado e pela especulação imobiliária.
A maioria de seus descendentes que conseguiu fugir das terras de origens viveu na Fazenda Guarani, na cidade de Carmésia/MG, considerada pelos indígenas como lugar de tortura e tristeza e que, por muitos anos, não foi relatado pela historiografia oficial brasileira.
Segundo o Cacique Kanátyo, liderança indígena da aldeia, por vários anos seu povo perambulou pelo território de Minas Gerais, sendo expulsos pelos donos de terras e ruralistas do agronegócio, terras estas que, por direito, eram dos povos indígenas, afirmou o representante indígena. Somente no ano de 2006, com a implementação da política de demarcação de terras indígenas, é que seu povo foi assentado no município de Itapecerica, atual Aldeia Muã Mimatxi.
O Prof. Me. Francimário Vito dos Santos aproveita a oportunidade para agradecer ao Cacique Kanátyo – líder indígena; Siwê – professor de Matemática e Língua Materna Indígena da escola local; Liça – professora da disciplina Saberes Tradicionais Indígena, Meio ambiente e Território; aos enfermeiros Santusa e Bruno, à dentista Ana e ao representante do Ministério da Saúde Kleber.